Conferencias de la Universidad Nacional de Córdoba, IX Encuentro AFHIC / XXV Jornadas Epistemología e Historia de las Ciencias

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Progresso científico e inovação
Debora Aymore

Última modificación: 10-08-2014

Resumen


No ano 2013, a Universidade de São Paulo incluiu a inovação como um dos objetivos dos programas de pós-graduação através da Resolução n. 6542, de 18/04/2013 (http://www.leginf.usp.br/?resolucao=resolucao-no-6542-de-18-de-abril-de-2013). Nesta resolução é mencionada a interação entre a produção de conhecimento e a “(...) formação de docentes, pesquisadores e profissionais com amplo domínio de seu campo do saber e capacidade de liderança e inovação” (Art. 1º). Considerando apenas essa primeira citação, não nos parece claro o tipo de relação é estabelecido entre a produção científica e a tecnológica, embora, ao lidar diretamente com a tese de doutorado, a mesma resolução afirme que o “(...) texto resultante de trabalho supervisionado de investigação científica, tecnológica ou artística que represente contribuição original em pesquisa e inovação (...)” (Art. 6). Nossa leitura inicial de tais artigos indica que a ciência, a tecnologia e a arte são áreas do conhecimento não equivalentes, o termo “inovação” é aplicado uniformemente às três formas de produção de conhecimento. Além disso, o órgão público responsável desde sua criação em 1975 pelo desenvolvimento das políticas nacionais em ciência e tecnologia é chamado atualmente no Brasil de “Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação” (http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/78973/Historico.html).

Esses são apenas exemplos específicos, mas nos direcionam para duas observações. A primeira, relativa a mudanças na orientação geral no programa de pós-graduação de uma das maiores universidades do Brasil e, a segunda, com relação a agência nacional que cria a política nacional para ciência e tecnologia e, por conseguinte, distribui fontes de financiamento para ciência e tecnologia no Brasil. O que tais exemplos parecem apontar é que, ao menos no Brasil, há certa tendência em associar ciência e inovação, embora tal relação esteja sob discussão entre os filósofos da ciência. Tradicionalmente, a tecnologia não foi considerada relevante para determinadas avaliações sobre o progresso científico. Estamos nos referindo especialmente aos filósofos do século XX tais como Karl Popper e Imre Lakatos que privilegiam a análise do desenvolvimento de teorias e da metodologia científica.

Outra perspectiva sobre o progresso científico nos foi apresentada por Thomas Kuhn que ao desenvolver o conceito de “paradigma”, por um lado, limitou sua avaliação do critério adotado pela comunidade científica e, por outro lado, abriu a possibilidade de a filosofia da ciência lidar com a relação entre os valores e a atividade científica. Esta relação é apresentada nas obras de Hugh Lacey e em sua crítica à ideia de ciência livre de valores (2005a; 2005b). Lacey, a seu turno, defende que é no momento da escolha do programa de pesquisa que ocorre a também a seleção de certos valores sociais e que tão seleção não é baseada apenas no uso dos valores cognitivos. No que segue, apresentaremos a proposta de expansão de tal análise dos valores para as narrativas do progresso científico. Especialmente, defendemos que qualquer narrativa sobre a ciência baseia-se em várias pressuposições, dentre as quais gostaríamos de avaliar justamente o que foi perdido da imagem tradicional da ciência, quando adotamos impensadamente a inovação como um valor central da ciência.