Conferencias de la Universidad Nacional de Córdoba, IX Encuentro AFHIC / XXV Jornadas Epistemología e Historia de las Ciencias

Tamaño de fuente: 
A autonomia do cientista e seu papel crítico no contexto das práticas científicas comodificadas
Daniela Rozados

Última modificación: 10-08-2014

Resumen


RESUMO PEQUENO (100 palavras)

A partir da última metade do século XX, as conquistas tecnocientíficas passaram a ser consideradas como promotoras do dinamismo econômico e prosperidade dos países, e tornaram-se mais vinculadas às necessidades da indústria e do comércio. Esse processo de empresariamento denomina-se comodificação da atividade científica, e implica que todos os tipos de atividades científicas e seus resultados são predominantemente interpretados e avaliados com base no critério econômico. O propósito desse trabalho é analisar como a comodificação da atividade científica está determinando práticas recentes de pesquisa, em particular a repercussão desta sobre a autonomia dos cientistas e seu papel crítico na sociedade.

 

RESUMO LONGO (600 palavras)

A partir da última metade do século XX, particularmente a partir dos anos 1980, ocorreram mudanças significativas nos modos de organização e produção do conhecimento científico. A ciência e a tecnologia passaram a ser consideradas essenciais para o desenvolvimento econômico e social dos países, com um lugar de destaque para a política de inovação. O discurso da inovação difundiu-se amplamente, e procurou enfatizar as conquistas tecnocientíficas como promotoras do dinamismo econômico e prosperidade dos países e de inúmeras melhorias no bem-estar social. Outros fatores como a emergência da tecnociência e o próprio desenvolvimento interno da ciência também contribuíram para a expansão e alteração dos modos de produção do conhecimento (cf. Shinn & Ragouet, 2005; Garcia, 2010).

Nesse sentido, pode-se dizer que o empreendimento científico parece estar sendo dirigido cada vez mais para prover necessidades materiais da sociedade, mais especificamente, vai tornando-se mais responsivo às necessidades da indústria e do comércio (cf. Ziman, 1994, 2000; Oliveira, 2011). Esse processo de empresariamento denomina-se comodificação da atividade científica.  Esse é um fenômeno complexo que envolve mútliplos aspectos desta: comercialização, contratos de pesquisa, privatização, patentes, produtividade científica, cultura do publish-or-perish, marginalização da pesquisa não-mercantilizada, a morte da ciência de interesse público. A partir de um ponto de vista mais amplo, a comodificação da ciência significa que todos os tipos de atividades científicas e seus resultados são predominantemente interpretados e avaliados com base no critério econômico (cf. Radder, 2010).

Desse modo, vivemos numa época na qual o critério econômico é dominante e assumiu um papel progressivamente importante na agenda científica. A influência do discurso da inovação e da comodificação da ciência tem feito as fronteiras entre ciência básica e ciência aplicada ficarem mais difusas. A ciência básica é aquela que é realizada sem ter uma finalidade prática associada a ela, e sua principal preocupação é o entendimento do funcionamento da natureza. Por outro lado, a pesquisa aplicada é aquela que está comprometida com um uso prático, com a aplicação do conhecimento, desde a sua concepção. Esses dois tipos de pesquisa guardam uma tensão entre si, já que elas têm diferentes objetivos e perspectivas. A ciência básica tem como propósito último o entendimento da natureza e pressupõe a comunicação livre do conhecimento obtido. A ciência aplicada necessariamente almeja a produção de patentes e outras formas de restrição de uso. Esses dois tipos de pesquisa tem uma relação de complementaridade dialética entre si (cf. Stokes. 1997).

O propósito desse trabalho é analisar como o elemento monetário está influenciando e determinando práticas recentes de pesquisa. Utilizaremos considerações feitas por Ziman sobre a complementaridade e até mesmo substituição das práticas tradicionais de pesquisa (mais identificadas com a pesquisa básica) pelo “novo modo de produção do conhecimento” (mais identificado com a pesquisa aplicada), ou para utilizar os termos dele, a relação entre a ciência acadêmica e a ciência pós-acadêmica. A ciência acadêmica representa o ideal tradicional do que a ciência deve ser, a “ciência pura”, e ela descreve o tipo de produção do conhecimento que ocorreu nas universidades americanas e europeias entre 1850 e 1950. A ciência pós-acadêmica descreve os novos elementos e práticas que têm sido mais presentes na atividade científica e tecnológica desde os anos 1980 (cf. Ziman, 1994, 2000). Em tal contexto, pretendemos refletir em como a comodificação da atividade científica influencia a autonomia dos cientistas hoje em dia, e repensar o papel atual de valores como o desinteresse e ceticismo (ceticismo organizado), tal qual foram formulados por Merton (2002, 1985, 1984).

 

Referências

 

Garcia, J. L. Tecnologia, mercado e bem-estar humano: para um questionamento do discurso da inovação. Alicerces: Revista de investigação, ciência e tecnologia e artes, Instituto Politécnico de Lisboa, ano III, nº 3, p. 19-31, 2010.

 

Lacey, H. Valores e atividade científica 1 e 2. São Paulo: Associação Filosófica Scientiae Studia/ Editora 34, 2008.

 

Merton, R. K. Teoría y estructura sociales. México: Fondo de Cultura Economica, 2002. 774 p.

______. La sociología de la ciencia, 2: Investigaciones teóricas y empíricas. Alianza Editorial: Madrid, 1985 [1977]. 717 p.

______. Ciencia, tecnología y sociedad en la Inglaterra del siglo XVII. Alianza Editorial: Madrid, 1984. 294 p.

 

Oliveira, M. B. de. O inovacionismo em questão. Scientiae Studia, São Paulo,  v. 9,  n. 3, p. 669-675, 2011.

 

Radder, H. (ed). The commodification of academic research. Science and the modern university. Pittsburgh: University of Pittsburgh Press, 2010.

 

Shinn, T.; Ragouet, P. Controverses sur la science. Pour une sociologie transversaliste de l’activité scientifique. Paris : Éditions Raisons d’Agir, 2005.

 

Stokes, d. e. Pasteur's Quadrant: Basic Science and Technological Innovation. Washington, D.C.: Brookings Institution Press, 1997.

 

ziman, J. Prometheus Bound: science in a dynamic steady state. Cambridge University Press, 1994.

______. Real science: what it is, and what it means. Cambridge University Press, 2000.